29 junho, 2006

Sem rótulo, obrigado !



Até gostei desse teu vinho
Embora não beba

E se bebesse
Talvez não desse por ele.

Nem quero a garrafa,
Nem a caixa

Nem tão pouco
Esse embrulho

E muito menos
Os laçarotes

Esses dispenso.

O que quero mesmo
Corre-te nas veias

É esse teu vinho
Embora não beba.
.

Menina confiança

Certo dia
Bati-lhe à porta
Ela não estava !

Soube depois
Tinha ido de férias.

Azar ?
Azar é falar nele !

Foi procurar
A minha inocência.

Perdeu-se,
Ainda pequena
Enquanto bebia azul.

Estava sentada
À espera
Que caísse o céu.

E até choveu
Só que...
O céu não caiu.

Soube depois
Tinha ido de férias.
.

27 junho, 2006

Reflexões noctívagas

Ali sentados
Onde o tempo parou
Redondo e agreste
Café plantado na noite

Aqui obliquo
De lado,
Entra o ar fresco
Da brisa lá de fora.

No meio do fumo
Saltam tampas
Acendem-se cigarros
Fumam-se pretas
Todas se bebem verdes
Geladinhas,
Boémias repentinas.

Em meados desse momento
Fala-se em perder
Na vida prostituta
Curta e comprida.

Houve desespero,
Um tempero desiludido
Lá se foi tua mãe
Fugiu tua mulher
Pai que nunca chegou
Será pior perder uma mãe?
Ou uma mulher?

Mãe é mulher,
E toda a mulher,
Virá um dia
A ser mãe
Se o quiser.

O Pior ?
O pior mesmo,
É quando nos afecta
E entra porta adentro
Fechamos a porta,
E...
Lá está na janela
Com mil raios !

Aí é a costura do tempo
O fosso cinzento
O ai que me dói !
Ao través dissimulado
Quando me calha a mim.

.

25 junho, 2006

Interrogações à porta fechada

Quis oferecer soluções
Embora as desconheça.

Desejei esbanjá-las
Para atordoar tristezas
Florescendo possibilidades.

Centrado num mundo próprio
Em que sou estranho
Aparecem-me intrusos
A contaminar invasores.

Saberá o engano,
O talvez da peste
Enclausurada neste espaço.

Guardo até poeira e pó
Sem os proliferar.

Depois virá o dia,
Em que os vou sepultar.
.

Metamórphosis

Parado o Navio
Lancei a âncora
Atracado na foz
Onde desaguam águas
Deixo as margens,
E mergulho.

Por momentos sou rio
Ao sabor da corrente
Conta-me ele uma história,
Viu certo dia uma nuvem
Pequenina,
Leve pluma branca
Espelhada nas águas.

Seu trilho seguiu
Até ela desaparecer.
Pelo meio das pedritas
Chorou nessas noites
Lágrimas sem rumo
Na rota da foz.

Sua frescura dinâmica,
Na áspera saudade
Acabou por aquecê-lo
Emergindo nevoiro em vapor.

Ao romper d' aurora
Choveu,
Caíram pingos e gotas
Seu leito transbordou.

Afogando sua tristeza
Nos remoinhos solitário
Entre a geada que sobrevoa
No parto das manhãs.

Ao culminar da tarde
Nevou,
Um Manto hirto crispado
Gelou seus lençóis
Nos declives acentuados.

Ao passar arqueado,
No arcos daquela ponte,
Focado no precipício
Nesse vago instante.

Captou a pura essência
Entre ele e a nuvem
Em neve ou em chuva
Diferentes formas.
Única matéria.

Uma só,
Água.
Subindo falésias
Descendo rápidos

Voando,
Ladeada de pássaros
O mesmo ser uno.

.

23 junho, 2006

Ao sabor das palavras

Respiro e sinto-as,
Se é que te soltas
Quando escreves.

Ou a poesia te conhece,
Ou dorme em teu leito.

Ainda se lembra ela,
Profundidade inexplicável,
Brilho e mil sombras
Três cores e seu sabor
Viveram seus dias na arte.

E a poesia está aí
Dentro de ti.
.

22 junho, 2006

Pequena Romã

Acordo a pensar
Na pequena romã
Outrora colhi-a.

Sonho sem saber
Levá-la de volta à mãe

Ó pequenina romã
Quis desistir de Ti

Fi-lo uns dias
Deixei-te mesmo Ali

Agora voltaste
Rosidinha
A cantar frescura

Quero encontrar-te
Doce brisa em fruto
Numa verde maçã.

.

20 junho, 2006

Senhor Cotão

Discute-se o sexo dos anjos,
Coçam-se os umbigos...

E,
A galinha da vizinha
Nunca a vi !

Também,
Desconheço se pôe ovos !

Agora,
Se todos o dizem
Eu acredito !

Ela é de facto,
Melhor que a minha .

Será !?
É, é
Até apareceu nas notícias,

Sim, Sim
Veio na televisão

Pois,
Houve inté um jornalista,
Altamente conceituado
Escreveu aquele artigo

É verdade pá
A galinha da vizinha
É melhor que a ... minha
Mas !?
E tu viste-a ?
Eu não !

Assim surge o Senhor Cotão
Nasceu embriagado.
.

13 junho, 2006

Senhor efémero

Ó senhor efémero !
Volúvel insatisfeito

Num ritual aborrecido,
Trespassas felicidade
Doente e cansada.

Vives hoje fugaz,
Frívolo inconsciente.

Ó pasmaceira
narcótica !
Teu culto fútil,
Provoca dores d' barriga.

Abutres te levem,
Estéril planta.

Abandonado relento
De ruína em ruínas
Sem pó nem andas.

.

12 junho, 2006

Contradições Áridas

Encontrei um menino
Num campo de flores
pequenino e puro
Soprou-me ao ouvido

Quis ser,
Transparente
Alma branca
Pura fantasia.

Descansar em paz
Em pequenos detalhes
Ver crescer a magia
Dum grande monumento.

Fui Rocha fechada
Temperamento inerte
Desejo fresco
De ser transparente
E medo de me queimar,
Se assim o for.

Interna contradição
Na teoria das desculpas
Enterrada que vens,
Ó mentira salpicada.
.

10 junho, 2006

Desenhos em Risco

Até podes esboçar
Um rabisco d' alguém
Que conheces de perto.

Ou criar uma garatuja
Dum ente querido
Com quem vives.

Agora,
Figuras inflamáveis,
Dum Deus que desconheces.
Na tua falsa fé.
Nunca.
Nem por sombras
E Jamais uma caricatura
Dum profeta d' outrém
Que ouviste dizer, que disse
Em tempo nenhum, o viste
E muito menos, sem o sentires.

Do teu Ocidentes Intolerante
Invadiste-lhe o espaço
Saqueando sua casa
Raptaste seus filhos.

À luz dum furto d' Estado
Numa ignorância oscidária
Ó Morte desdentada !
Vai Xenófobo cifrão
Em sede de poder
Hegemonia Acorrentada.

Desenhaste com um fósforo
A sepultura da liberdade
Asfixiaste o respeito
Sufocando possíveis diálogos.
.

Produto inflamável

E vens-me falar
De liberdade d' expressão
Incongruente Ocidentário.

Ó Arrogante Letal!
Dizes à boca cheia
Que tais horizontes orientados
Desrespeitam o Homem
Apedrejam Mulheres
Pois!

E tu dólar Oscidário
Papel incendiário
Que matas teus homens
Em cadeiras eléctricas
Exploras Mundo fora
Trabalho infantil
Liquidando quem,
Contigo discorda.

Ocidentários medianos
Dois pesos, duas medidas.

Olha-te ao espelho
Ocidentário d' olhos vendados
Olha-te ao espelho
Tens a cara borrada.

Elabora-se as leis
Para o lado de lá
Só p'rós outros
Eles terão de as cumprir
Os órfãos de país
Sem água, nem pão

Ó Oscidário
Tás com as patas,
Nesse formigueiro
Julgando-os a todos,
Oriantados horizontes
Como clones do mal.

O melhor mesmo,
É lavares tuas mãos
É que estão manchadas,
De sangue e morte.

Vai lá p'rá tua casa,
Brincar à democracia.

Vomita o teu medo
Que subiu ao poder
Com o teu voto político.

Esquece o lucro,
Que a guerra te dá
E abastece o teu carro
De capitalismo
É teu, é económico.

Vais ter de cuspir,
Torres gémeas d' extintores
Se vais apagar este incêndio.
.

08 junho, 2006

Ousadia em movimento

Vai profeta viajante
Semeando escolhas

Rotinas à deriva
Anarca em pensamento.

Dormes hoje, numa cama
E amanhã, no chão.

Tens Leme nas mãos,
Vulcões e tempestades.

Iças velas, surgem ventos
Alçado traquete, sem convés

Flutuando em ciclones,
Na proa do ensejo.

.

07 junho, 2006

Linha d' Utopias

Nem à esquerda
Nem à direita
Quero viver Arestas !

Nunca no centro,
O centro é só um ponto !

E jamais no céu,
Esse longínquo animal !

É no mar,
Nessa Linha do horizonte !

De longe e perto,
Nada é tão certo.

...

03 junho, 2006

Temperos Silvestres















Tive-te nas mãos
Água nascente

Temperas meus dias
Fresca Flor de sal

Visto tuas sombras
Ventilada
frescura

De cima dum ramo
Atiro-me ao rio.

Dissolvo-me nas águas
Bebo nosso sal.